terça-feira, 21 de outubro de 2008

Retrocesso militarista


De todas as instituições nacionais que detesto, o serviço militar obrigatório ocupa lugar de destaque. Obrigar, por força de lei, um guri de 18 anos a aprender o ofício de matar em combate sempre me soou um conceito medieval. Ainda que não somente pela violência inata do oficio, a idéia de que o Estado pode tomar um ano da vida de um cidadão para este cumprir tarefas que não lhe interessam já é absurdo o suficiente.

Na prática, o serviço militar só é obrigatório no Brasil para quem realmente deseja passar um ano sob jugo de milicos ou para infelizes que não tiveram sorte de escapar da tropa por excedente de contingente. Todo ano, a gurizada que apresenta problemas de saúde ou simplesmente cai no excedente pode continuar a vida normalmente, fato que não agrada muita gente “lá de cima”; quanta mão de obra perdida, quanta doutrinação passou em branco!

Mas os bons tempos estão acabando, a depender de alguns desses “lá de cima”: existe um projeto para tornar o serviço obrigatório em obrigatório de fato. Não li muito a respeito, mas parece que tal projeto prevê que aqueles que não cumprirem o serviço militar compulsório serão obrigados cumprir “serviço social obrigatório”. Serviço social obrigatório? Procurei por algo que esclarecesse o que seria isso no google, mas não logrei êxito. O que encontrei foram algumas declarações do mentor da grande idéia, Mangabeira Unger. Seguem trechos:

Quem não prestasse o serviço militar obrigatório --homens e mulheres-- prestaria o serviço social, de preferência em uma região do país diferente da que se originasse. E receberia treinamento militar rudimentar para compor uma força de reserva mobilizável em circunstâncias de necessidade". OK. Por partes. É muita novidade para poucas linhas. Mulheres atualmente não estão sujeitas a serviço militar obrigatório, mas parece que pretendem mudar isto. Parece que mulheres serão obrigadas a escolher entre o serviço militar ou o serviço social obrigatórios. Pior, ainda serão mandadas para algum grotão distante de seu lar. E, mesmo prestando um serviço não militar, ainda assim receberá o treinamento militar!

Se o serviço não é militar, quem dará este treinamento? E que doutrina será aplicada? Vamos treinar uma milícia civil em guerrilla warfare para emprego em alguma guerra fratricida? “Força de reserva mobilizável” certamente me remete a algo como força militar não-regular, uma guarda civil provisória das nossas antigas revoluções. E doutrinação ideológica não está descartada, segundo matéria da ZH: “A proposta é associar à educação militar dos jovens o ensino técnico e orientação civil. Ele não especificou como funcionaria essa orientação civil.”. Alguém lembra de OSPB?

Parece que a turma de 64 fez escola...

Imagem: "Eles querem você". Peguei daqui.

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