sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Cuidando com muito carinho


Lula do PT, nosso amado messias, é um líder generoso. Tão generoso, que chegou a dizer que precisamos cuidar de nossos países vizinhos com carinho. Disse também que é responsabilidade dos grandes países do mundo, entre os quais, claro, o Brasil (um rico país de primeiro mundo), zelar pelo bem estar dos subdesenvolvidos.

Na Folha, leio notícia que diz ser no valor de R$ 67,4 milhões as DOAÇÕES alimentícias feitas aos países pobres do mundo, algo em torno de 50 mil toneladas. Nosso país, que já superou todos os seus problemas econômicos e sociais, que não vive mais na pobreza, tem em razão disso dever moral e ético (conforme palavras do próprio Lula do PT) de proteger os coitados do planeta.

O espírito natalino definitivamente tomou conta do nosso idolatrado petista.

PS: Segundo a notícia, Cuba é uma das mais favorecidas pela generosidade do messias.

Imagem: Gustavo Miranda, O Globo.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Delírio total


"Um país como o Brasil, como a França, como os Estados Unidos, somos nós que temos potencial e que temos que cuidar com carinho dos países que ainda não conseguiram se desenvolver. Nosso país tem fronteiras com países pequenos, mais pobres que o Brasil, e nós termos obrigação política, econômica, moral e ética de ajudar esses países"

Lula do PT, nosso messias, além de investir dinheiro público em republiquetas de bananas, aceitar os calotes e voltar a prometer mais recursos, diz ainda que devemos "cuidar com carinho" dos picaretas do continente! E num surto de megalomania, ainda nos coloca ao lado da França e dos Estados Unidos!

Lula do PT está delirando!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O essencial Mises


"É fora de dúvida que a maior parte dos nossos contemporâneos está comprometida com uma interpretação errônea do vínculo produtor-consumidor. Ao comprar, os indivíduos se comportam como se só estivessem ligados ao mercado como compradores, e vice-versa ao vender. Como compradores, preconizam medidas severas para se protegerem dos vendedores; e, como vendedores, preconizam medidas não menos severas contra os compradores. Mas essa conduta anti-social que abala as próprias fundações da cooperação social não é uma conseqüência de um estado mental patológico. É o produto de uma mentalidade estreita que não chega a perceber como a economia de mercado funciona e nem consegue antecipar os efeitos finais que suas próprias ações haverão de provocar."

Trecho do texto retirado do capítulo XV, "O indivíduo e o mercado", da obra Ação Humana, de Mises. Um texto básico sobre funcionamento do mercado, sobre os equívocos do intervencionismo e da ignorância na percepção do papel do indivíduo na sociedade.

Texto completo, aqui.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Lula, nosso messias


Em um momento histórico, nosso ignaro presidente, Lula do PT, atinge 84% de aprovação pessoal segundo pesquisa publicada esta semana. No nordeste, a popularidade chega aos 94%. É uma popularidade não menos do que messiânica. Não vou aqui lançar suspeitas sobre a pesquisa, pois acredito que ele seja, sim, amado pelo povo. Mas, estranho, não conheço ninguém que abertamente defenda o presidente, ou o faça o menor elogio.

Mas, de qualquer maneira...

EI EI EI, O LULA É O NOSSO REI!!

Mudança?


Leio nos jornais que Obama, antes mesmo de assumir, já está sinalizando que irá manter algumas políticas de Bush, entre as quais a econômica e a política externa. Acredito que eram as duas áreas onde haviam maiores esperanças de mudança. Tudo como antes na casa de Abrantes.

Moral da história: Obama é um mestre no marketing.

Imagem: "Change, we´ll make you belive in". Faremos vocês acreditarem na mudança, mesmo que ela de fato não aconteça. Os que temiam uma guinada a esquerda, acho que podem se acalmar. Peguei daqui .

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Upload


Em tempo, no post "Expectativas deste blog" ignorei um importante foco de graves problemas internacionais que a administração de Obama irá encarar: o Paquistão e o assustador crescimento e fortalecimento do Taleban ao longo de sua fronteira noroeste com o Afeganistão. Antes um problema regional, restrito as áreas tribais dos pashtuns, o movimento já tem em seu domínio a importante cidade de Peshawar, no norte do país e se espalha fora de controle. Muito provavelmente foram estes sectários maometanos, em associação com a Al-Qaeda ou grupos afins os responsáveis pelo assassinato de Benazir Bhutto. Pouco provável que aconteça, mas um "worst case scenario" seria o taleban chegar ao poder de uma nação nuclear.

Vamos ver como Obama irá lidar com a situação.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

A caminho de Cabul e Bagdá


Burke apresenta neste livro uma visão e uma idéia sobre a questão do islamismo radical bastante original e muito relevante. De 1991, quando chegou ao norte do Iraque para lutar com guerrilheiros curdos seguindo aspirações tipicamente juvenis até anos recentes, Jason Burke viveu no que conhecemos como “mundo islâmico”. Como correspondente de publicações ocidentais, cobriu as inúmeras guerras civis, levantes, conflitos tribais e mergulhou fundo nas questões religiosas e culturais de lugares como Argélia, Iraque, Afeganistão, Tailândia.

Indo direto ao ponto, o que ele identifica é uma militância islâmica que muito em comum apresenta com as ideologias seculares que agitaram o mundo no século passado. As motivações, as inspirações, e mesmo a iconografia são assustadoramente semelhantes a da esquerda radical e da direita linha-dura. Por ali passa aquela muito conhecida ojeriza ao que o Ocidente produziu de melhor: a modernidade e suas conseqüências, entre as quais a tolerância. Aliás, é o medo ao “mundo moderno” que vem alimentando fundamentalismos nos últimos duzentos anos.

Na página 284, quando relata sua passagem pelo sul da Tailândia em função de um levante islâmico, lhe ocorre um insight: “(...) o período de aproximadamente uma semana que passei no sul da Tailândia ajudou a esclarecer meu pensamento sobre vários pontos importantes. Descobri que a insurgência que depois do 11 de setembro repentinamente se instalara nas três províncias do extremo sul daquela nação predominantemente budista (...) tinha realmente antigas raízes históricas. Havia começado como resistência islâmica contra anexação tailandesa (...), logo se transformara em um movimento esquerdista de libertação, com uma ideologia meio marxista. O retorno a uma ideologia mais islâmica nos últimos anos era, assim, apenas a última de uma série de manifestações de um longo ativismo violento.” Segue ele considerando que este fato é comum a muitas das nações de maioria muçulmanas que hoje apresentam problemas com radicais, e conclui que “onde o Islã não disponível, como demonstraram os rebeldes maoístas do Nepal hindu e budista, pode-se quase sempre encontrar uma alternativa”. O problema, assim, não seria o Islã propriamente, senão uma militância radical baseada no Islã, carente de apoio maciço do povo mulçumano e mantida acesa pelo medo, intolerância e obscurantismo.

O livro termina com um capítulo de reflexões ancorado no atentado suicida de Londres, sua cidade natal que matou cinqüenta e duas pessoas e feriu 700 outras. Durante anos ele presenciou atos semelhantes nos cantos mais remotos do pobre e miserável “mundo islâmico”, e agora a tragédia chegara á porta de sua casa, seu refúgio entre uma incursão ao inferno e outra.

Apesar de não concordar com todas as conclusões do autor, de modo geral suas idéias são coesas e provocam questionamento no leitor. Uma leitura 100% recomendável a todos que desejam entender uma das questões mais importantes da atualidade. Recomendaria também o livro anterior do Burke, Al-Qaeda: A verdadeira história do radicalismo islâmico e Ocidentalismo, de Ian Buruma e Avishai Margalit.

Link para o espaço do autor no Guardian.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Uma questão meramente cultural

"Crianças indígenas enterradas vivas"

Estes índios são brasileiros. Que incida sobre eles a lei brasileira. E pare de se proteger a selvageria e a barbárie.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Quando a vida imita a arte


Episódio do Hermes & Renato que ilustra a jornada das últimas semanas na loja.
"Pedreiros da PQP"

Imagem: peguei daqui

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A grande porta dos fundos


Os deputados aprovaram projeto que determina que metade de todas as vagas nas universidades federais e escolas técnicas sejam reservadas para negros e estudantes oriundos do sistema público de ensino.

Por um lado, o Estado não apenas assume que raças existem como também pretende oferecer tratamento diferenciado com base na cor da pele de seus cidadãos, por outro reconhece que as escolas públicas são umas merdas, mas não pretende fazer nada para mudar esta realidade.

Disto resulta que a porta dos fundos de nossas universidades agora tem mesmo tamanho da porta da frente. Que as notas e médias sejam sempre publicadas, para que aqueles que não conseguiram entrar pela porta da frente saibam que tiveram suas vagas tomadas pelos que optaram espertamente pela fácil porta dos fundos.

Brasil, um país de todos?

Imagem: Já é um lixo, pode ficar pior.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A marcha do islamofascismo


Em mais um capítulo grotesco e indescritível do islamofascismo internacional, uma criança taleban de doze anos decepa a cabeça de um refém. Não vou postar o filme ou o link. Não acrescentaria nada, e apenas saber que tal atrocidade foi cometida deve bastar. Jornalistas decapitados, reféns queimados vivos, mulheres lapidadas, gays enforcados. A loucura islâmica marcha sobre o mundo e pouco se faz a respeito.

E não venham me falar sobre os milhões de muçulmanos que não arrancam a cabeça de seus desafetos. O Corão está repleto de passagens incitando a matança de infiéis e o próprio Maomé, um guerreiro, usava da força da espada para espalhar a palavra de Allah.

O que os "jihadistas" modernos fazem é usar o Corão da maneira mais autêntica possível: espalhar a fé islâmica ao estilo de Maomé.

ALLAH UH AKBAR!

Imagem: lembra da caricatura de Maomé publicada em um jornal interiorano da Dinamarca? Pessoas morreram por causa disso, e o artista foi jurado de morte. Piada? Não, Islamismo.

Amado e Stalin


Ontem comentei um livro que li recentemente, o Propaganda Monumental, sobre as desventuras de uma stalinista fanática que levara para seu apartamento uma enorme estátua do “paizinho dos povos” e vê o adorado regime desmoronar ao longo dos anos. Hoje leio no blog do Cristaldo um trecho de O Mundo de Paz, do celebrado (celerado) escritor nacional Jorge Amado, sobre Stalin:

“Vós sabeis, amigos, o ódio que eles têm - os homens de dinheiro, os donos da vida, os opressores dos povos, os exploradores do trabalho humano - a Stalin. Esse nome os faz tremer, esse nome os inquieta, enche de fantasmas suas noites, impede-lhes o sono e transforma seus sonhos em pesadelos. Sobre esse nome as mais vis calúnias, as infâmias maiores, as mais sórdidas mentiras. ‘O Tzar Vermelho’, leio na manchete de um jornal. E sorrio porque penso que, no Kremlin, ele trabalha incansavelmente para seu povo soviético e para todos nós, para toda a humanidade, pela felicidade de todos os povos. Mestre, guia e pai, o maior cientista do mundo de hoje, o maior estadista, o maior general, aquilo que de melhor a humanidade produziu. Sim, eles caluniam, insultam e rangem os dentes. Mas até Stalin se eleva o amor de milhões, de dezenas e centenas de milhões de seres humanos. Não há muito ele completou 70 anos. Foi uma festa mundial, seu nome foi saudado na China e no Líbano, na Rumânia e no Equador, em Nicarágua e na África do Sul. Para o rumo do leste se voltaram nesse dia de dezembro os olhos e as esperanças de centenas de milhões de homens. E os operários brasileiros escreveram sobre a montanha o seu nome luminoso”.

Imagem: "Stalinator", peguei daqui.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Propaganda Monumental


Sátira divertida e sarcástica que usa uma stalinista fanática pra contar a história da União Soviética no século passado. A protagonista é uma criatura absurda (mas típica) que resolve, após a queda do amado líder, levar para seu apartamento estatal uma enorme estátua de Stalin feita em ferro vagabundo (daí o título da obra). A coisa de ferro adquire personalidade e passa a interagir com a mulher, que vê ao longo dos anos o regime afundar lentamente. Paralelamente outras histórias correm, para dar uma noção mais geral sobre a situação política da antiga URSS e são igualmente divertidas. O livro tem o mesmo clima do filme “Adeus Lênin”, nostálgico e absurdo.

Imagem: Propaganda Monumental, de Vladímir Voinóvitch.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Expectativas deste blog


Iraque: A situação não é calamitosa como em 2006, quando a derrota se tornou iminente. Os americanos viraram o jogo com uma inteligente rede de alianças tribais e atualmente a situação é a mais estável desde o início da ocupação. Sair agora é trair o povo iraquiano e entregar o país aos diversos grupos e organizações radicais islâmicas. É ter a certeza de que outra teocracia irá surgir na região (provavelmente xiita, e provavelmente aliada do Irã). Pior, é ter certeza de que mais tarde, em função destas organizações terroristas, uma nova invasão seja necessária. Obama sabe disso. Não sai de lá tão cedo.

Afeganistão: Conhecida como a "Guerra Esquecida", será a "Guerra do Obama". Tenho certeza que ele vai tentar trazer a cabeça do quase-xará Osama em uma bandeja. Pelo menos o serviço será terminado.

Irã: Inimigo. Obama, acredito, será tão duro quanto Bush no que diz respeito aos aiatolás atômicos. Não haverá espaço para discussão caso Ahmadinejad insista no projeto nuclear. Pior, talvez com o recrudescimento do discurso da teocracia maometana, Obama entre no país em alguns anos.

Chavéz, Morales, Kishner, Fidel e demais idiotas latino-americanos: Nada. A América Latina atualmente não representa muita coisa para os gringos. Com possível exceção da Venezuela em função do petróleo. Mas nesse caso, Chavéz será tratado como merece: um ditadorzinho de meia pataca falastrão e ignóbil. E “embargo” cubano? Continua, caso o regime mantenha seu próprio embargo contra seu povo.

Claro, Obama será mais diplomático do que Bush no sentido de dar maior espaço para o diálogo, mas acredito que isto será mais um jogo de cena do que interesse honesto. Talvez ele assine tratados ambientais, dialogue mais com a ONU, seja um bom rapaz e coisa e tal. Mas daí a cumprir estes tratados e respeitar decisões da ONU são “outros quinhentos”. Maquiavelicamente falando, mais importante do que ser virtuoso é parecer virtuoso.

Nada muda, realmente. As diferenças maiores se darão internamente. O resto do mundo poderá contar com o velho bullyboy de sempre. Mas agora com um visual mais sofisticado.

Imagem: o velho Tio Sam não foi embora, podem ter certeza. Desenho do Cox and Forkum.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Questão cubana


Pode haver capitalismo sem liberdade, mas não há liberdade sem capitalismo. Olhe o mundo: a China é indubitavelmente capitalista, no entanto, onde está a liberdade, a democracia? Agora tente encontrar um lugar onde exista democracia e liberdade civil, mas que não exista capitalismo mesmo em uma forma mais básica. Não sei de nenhum.

Cuba pode seguir, e provavelmente seguirá se tiver chance, o exemplo chinês. Com certeza as condições gerais do povo, com o fim do “embargo” (que na minha opinião não é embargo, mas boicote) e um estímulo capitalista mudaria o cenário lamentável da ilha. Existe potencial para produzir mais do que charutos naquela ilha, tenho certeza. Mas, mesmo assim, não haveria necessariamente liberdade.

Os líderes cubanos que clamam pelo vil metal americano o fazem espertamente: enriquecem o país, alimentam seu povo e ainda podem manter o regime tal qual sempre foi. Cai o “embargo” externo, mas se mantém o interno, muito pior e mais violento, como bem disse Yoani em seu blog.

Que Obama faça uma boa barganha. Derrube o boicote, mas só depois que os generais geriátricos e a múmia comunista derrubar o seu.

Imagem: Cox and Forkum

Pax Romana


A oratória impressiona. Fala como os antigos líderes dos livros de História. A postura impecável de Barack Obama, para todos os efeitos um negro, ainda dá o tom épico da vitória. Afinal de contas, o Estados Unidos é a pátria do racismo, do preconceito e do conservadorismo, certo? Tanto quanto o Rio Grande do Sul é a terra do machismo, mas elegeu uma mulher.

Que mais não seja, pelo menos alguns tabus e preconceitos alimentados durante muito tempo contra os gringos talvez sejam revistos. De resto, a fórmula democrata de governar em muito se assemelha ao que existe no Brasil lulista. Alta carga tributária para financiar assistencialismo, protecionismo nacionalista, liderança populista, etc. Mas duvido que a política externa mude em alguma coisa. Os inimigos ainda estão lá, e presidente nenhum pode dar as costas a eles sob o risco de cair em desgraça junto ao seu povo.

As guerras, invasões e “políticas intervencionistas” devem continuar normalmente, o que vejo como algo positivo. A luta por poder no teatro internacional nunca cessa, e prefiro ter uma república democrática na vanguarda do planeta do que alguma teocracia maometana atômica. E muitos desses inimigos já se manifestaram favoráveis ao novo presidente, mas creio que com a idéia de encontrar ali uma fraqueza, não uma aliança.

Não, Obama não traz a “paz e união”. Não no sentido que seu eleitorado espera. Ele não é, nem pode ser, um pacifista. A paz que ele traz é a paz de Roma. E a pax romana é uma paz armada e agressiva.Que seja!

O discurso da vitória, em duas partes: Parte 1 e parte 2

domingo, 2 de novembro de 2008

Dividir para conquistar


Não bastassem as reservas de vagas em universidades e em alguns concursos públicos, um ministério próprio (o da “Igualdade Racial”), publicações que exaltam a raça entre outras coisas, agora os negros do Brasil poderão ser agraciados com um novo privilégio: a delegacia do negro.

Não, não é piada. A depender do ministro Edson Santos, da tal Igualdade Racial, os negros (e talvez outros grupos minoritários como ciganos e judeus) devem ter direito a um serviço policial exclusivo, inteiramente dedicado às questões da negritude no país. A idéia é seguir o exemplo da delegacia da mulher. Suponho que tal como acontece com as mulheres e sua Lei Maria da Penha, logo virá uma Lei dos Negros, compilando todas essas benesses em um único corpo. Faria sentido. Índios já possuem legislação própria, correto?

Não precisa ser vidente para perceber um futuro negro, com perdão do trocadilho, despontando no horizonte. Leis raciais, pela lógica, tendem a agravar a questão racial uma vez que institucionalizam a questão. Se antes raça era um conceito reacionário e atrasado hoje é reconhecido e tutelado pelo Estado. Raças existem, e pessoas de raças diferentes devem ser tratadas de formas diferentes, diz o legislador.

Dedicar um departamento policial para um segmento da população é um erro terrível. A caça as bruxas está prestes a começar e eu não quero estar por perto. Ao inferno com este país de loucos.

O Globo: http://oglobo.globo.com/pais/mat/2008/10/28/governo_quer_abrir_delegacias_raciais_no_pais-586163940.asp

Estadão: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20081101/not_imp270498,0.php

Imagem: Qui prodest?

sábado, 1 de novembro de 2008

Ironia é para poucos


Aconteceu semana passada aqui em Pelotas. Uma funcionária pública de 42 anos, casada com um negro, militante de movimentos sociais e sindicalista, escreveu artigo irônico sobre a questão das cotas raciais no jornal do sindicato. O Movimento Negro, muito indignado com o que não havia entendido (ironia é para poucos, parece), fez registro de ocorrência de crime de racismo.

Dias depois a mulher se reuniu com líderes do movimento racista, digo, racial para tentar esclarecer a questão, sem sucesso. Quer dizer, segundo a coordenadora no Movimento Negro, Maritza Freitas, o povo do movimento até entendeu o que a sindicalista quis dizer, mas decidiram não retirar a queixa na delegacia. Confuso? Também achei. “Ela fez os esclarecimentos necessários e nós entendemos, mas o que fica é um texto publicado com notória escrita racista, por isso deixaremos a ação seguir seu caminho. Este episódio deve servir de lição para as pessoas lembrarem que ao escrever sobre os outros e suas marcas é preciso fazer isso com responsabilidade”. Em outras palavras, entenderam que a autora não é racista, mas não gostaram de seu texto, logo mantiveram o registro policial. E dona Maritza ainda fez uma ameaça velada aos que se atreverem a escrever textos que não os agrade.

Mas a ignorância na questão não se limitou apenas aos negros do movimento, um professor de Literatura da UFPel parece desconhecer o que é ironia: “O texto é preconceituoso, especialmente na sua primeira parte, porque a autora assume esse discurso racista, mas não apresenta elementos contraditórios capazes de frisar a ironia e desfazer a idéia de que ela pensa assim”. Ora, quer dizer então que uma ironia precisa vir seguida de uma explicação que derrube a ironia? Não pode haver texto escrito com ironia do início ao fim?

A situação, por si só, já é carregada de ironia: uma legítima gauche, esquerdista até os ossos, escreve um texto pró-cotas que os cotistas não entendem. Deus, o mundo está perdido.

Notícia na ZH: http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2277216.xml&template=3898.dwt&edition=11006§ion=1003

Blog Amigos de Pelotas: http://www.amigosdepelotas.com/2008/10/caso-de-suposto-racismo-revela.html

Imagem: "Duh"

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Making a Killing


Desde que saí da polícia, há uns dois meses, tenho tido mais tempo livre para leituras e um agradável ócio improdutivo. E como não tenho muito o que postar por aqui, vou tentar escrever resenhas de alguns dos livros mais interessantes. Um dos assuntos que me agradam atualmente (há um bom tempo, na verdade) é modern warfare, guerra moderna em todos os seus aspectos: logística, táticas e estratégias, equipamentos, armamentos, inteligência e, claro, o elemento humano; grupos de combate especiais, terroristas (ou insurgentes, dependendo de quem escreve) e mercenários, protagonistas deste post.

Making a Killing é de longe o melhor livro que já li sobre mercenários modernos. O autor, James Ashcroft (pseudônimo) é ex-capitão de infantaria do exército britânico, veterano com experiência na Irlanda e na Bósnia, que em setembro de 2003, depois de não se ajustar muito bem à vida “civvy” assina um contrato com a Spartan, uma PSC (sigla para private security company, ou companhia de segurança privada) que atua no Iraque e no Afeganistão sob os auspícios do Departamento de Defesa norte-americano. O livro narra sua experiência ao longo de dezoito meses conduzindo missões PSD (private security detail – guarda costas) ao longo da Route Irish, a estrada que liga o Aeroporto Internacional de Baghidad até a Green Zone (zona de segurança no centro da cidade), conhecida como a rodovia mais perigosa do mundo, com ataques terroristas diários. Também se viu responsável pelo treinamento da força de defesa iraquiana e a proteção de uma hidrelétrica.

Como é comum em relatos de guerras, o livro é cheio de momentos de tensão, adrenalina e angústia. Este, como diferencial, coloca uma enorme carga de humor. Humor negro, principalmente. Acrescente-se que Ashcroft não é hipócrita, tendo bons insights sobre o aspecto político da guerra. Não acredita que ela seja em nome da Liberdade e da Democracia, nem ele está muito preocupado em ganhar os corações e mentes. A guerra no Iraque é, em sua opinião, uma farsa. Ou pelo menos as razões que levaram a ela são. E ele é um sujeito com experiência militar e contas a pagar.

Como qualquer livro que trata sobre o aspecto privado da guerra moderna, aqui também se levanta questões sobre legalidade e legitimidade de companhias de segurança atuando em conflitos internacionais. A maioria dos agentes que trabalham para estas empresas não se vê como mercenários, preferindo a designação contractors. Até porque seus serviços são primordialmente de proteção. A natureza de seus contratos é “defensiva”. Mercenários, segundo alguns, são aqueles hired guns usados em ações ofensivas, ataques e golpes. Não é o caso, apesar de existir não poucos relatos de contractors atuando ombro a ombro com o exército regular e forças especiais (Ashcroft narra episódio em que se viu obrigado a combater insurgentes ao lado de soldados da 82nd Airborne). Sobre essa questão da legalidade, melhor desenvolver o assunto em post próprio, porque este já se estendeu demais.

Enfim, é um livro bem escrito, empolgante, polêmico. A cara da nova guerra descrita por um veterano meio louco.

Site do autor: http://www.makingakilling.co.uk/home.html

Na Amazon: http://www.amazon.com/Making-Killing-James-Ashcroft/dp/1852273119/ref=sr_1_2?ie=UTF8&s=books&qid=1225420921&sr=8-2

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Um artigo para entender o mercado de créditos

Ele é um tanto longo, então vou apenas colocar o link aos interessados. O autor, Frank Shostak, segue a Escola Austríaca de economia de Mises e Hayek. É de longe o texto mais esclarecedor sobre a questão de créditos que já li, e ajuda a elucidar as causas da atual crise e como superá-la.

O problema do crédito: o que fazer para recuperar os mercados?

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Sobre (ir)responsabilidades


Escrevi, no dia 20 deste mês no blog do Maia, sobre o seqüestro de Santo André que terminou com a Morte de uma adolescente:

O que acho que pode ter acontecido, foi o que já aconteceu no conhecido caso do ônibus 174, um governador preocupado com a repercussão que uma cabeça explodindo a duas semanas de um segundo turno eleitoral poderia ocasionar. A pergunta que deveria ser feita ao comandante e não vi ninguém fazer é se ele conversou com alguém do governo durante a negociação. Acredito que sim. E acredito que ele tenha recebido orientações.

Leio no blog do Janer Cristaldo, notícia do jornal Agora:

Governo não autorizou tiro em Lindemberg

"O promotor Antonio Nobre Folgado disse ontem que os integrantes do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) não tinham autorização do gabinete de crise e de seus superiores para realizar o "tiro de neutralização" contra Lindemberg Alves Fernandes, 22, que matou Eloá Cristina Pimentel, 15.
O gabinete de crise era constantemente informado sobre o andamento da situação e era formado por José Serra (PSDB), pelo secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão e pela cúpula da PM.
Segundo o promotor, essas informações constam dos depoimentos de PMs e dos comandantes do Batalhão de Choque, coronel Eduardo Félix, e do Gate, Adriano Giovaninni
.”

Neste mesmo dia, além de comentar no blog do Maia e do Janer, o fiz também no blog do tucano Reinaldo Azevedo, articulista da Veja. O comentário foi lido, tenho certeza, já que ele faz questão de censurar algumas manifestações caluniosas ou de baixo nível, mas como resposta, o silêncio. Agora que parece que a tese se confirmou e foi discretamente noticiada, gostaria de ver alguma manifestação por parte deste senhor, cabo eleitoral de José Serra & cia.

Ainda no blog do Janer, fico sabendo que um Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana de São Paulo (Condepe-SP) está pedindo que se investigue possíveis tapas que Lindemberg, o seqüestrador, teria levado da polícia pouco depois de ter sido desarmado.

A realidade deste país é a de um show de horrores. Uma menina perdeu a vida por causa de pudores eleitorais de um político inescrupuloso, e se preocupam em investigar policiais por tapas no maníaco homicida!

Mas que diabo!?

Notícia na Folha: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u461212.shtml

Imagem: muita gente vai tentar lavar as mãos. mas este tipo de mácula não desaparece fácil.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Estrela cadente


Entre Fetter e Marroni, deu o primeiro. Mas não existem realmente grandes diferenças entre os dois candidatos. Aquela social democracia feijão com arroz que o Brasil adora. Diferenças, só percebo duas: o discurso, com Marroni tentando encarnar o espírito esquerdista latino-americano (salientando sempre ser amigo do Lula) e o Fetter, tentando soar como mais “sério” e “intelectual”. A outra diferença, determinante na minha opinião, é o partido.

À diferença do partido do Fetter, o PT de Marroni arrasta uma carga ideológica bem mais pesada. O povo associa com MST, Via Campesina, CUT, assistencialismo barato, Hugo Chavéz e Evo Morales. Enfim, mesmo que na prática pratiquem políticas semelhantes no que diz respeito à economia, o discurso, as alianças e as idéias do PT ainda são daquela esquerda que desmoronou em fins do século passado.

As pessoas não votaram no Fetter. As pessoas votaram contra o PT. Nem ao menos devem ter algo contra o Marroni. Pelo menos, eu não tenho.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Para pobres


Meu país inova em questões de segurança pública. Recentemente causou furor entre a classe política do país um suposto uso indiscriminado e abusivo das famigeradas algemas. Explico. Durante décadas foi um procedimento policial regular, por questões de segurança, algemar suspeitos durante deslocamentos ou averiguações nas delegacias e quartéis. Não deveria suscitar polêmica, como, aliás, nunca suscitou. Sempre foi aceito como uma conduta normal e atitude de bom senso. Claro, muitas vezes o suspeito está calmo e não apresenta ímpeto violento, mas a orientação é sempre no sentido de não arriscar. E também para evitar que se pense que um ou outro está, de alguma forma, sendo beneficiado por não estar devidamente grampeado. Uma questão de equidade.

Como disse no início, nunca suscitou polêmica, até que... Até que resolveram prender um conhecido banqueiro e, como de costume, fizeram-lhe sentir o aço frio dos grilhões da lei. Foi o suficiente para desencadear uma onda de indignação e raiva entre a elite política nacional. Empatia é um sentimento poderoso. Se alvoroçaram esses pavões e logo começou pressão no sentido de regular o uso desse instrumento detestável, as algemas. E assim foi.

"Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado". Ou seja, algemas agora é caso de exceção. Primeiro, o diálogo e o bom entendimento. Depois, talvez, algemas. Com autorização por escrito do meliante, fique claro.

Na prática a medida torna o uso das algemas proibitório. O agente, mesmo sofrendo “de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros” terá de prestar esclarecimentos em juízo sobre a ação, pois o advogado do vagabundo não perderá a oportunidade de ouro de questionar a legalidade do uso do equipamento, e quem sabe até conseguir a anulação da prisão. Mais fácil simplesmente calçar o vago na ponta da arma e torcer por um passeio tranqüilo. Ou fazer como estes PMs de Brasília fizeram, jogando o sujeito no porta-malas. Mas aí o prato cheio é para ONGs humanitárias. Enquanto era o traficante, o estuprador, o assaltante, o chinelão ali da esquina a ser grampeado sem problemas. Merecido! Foi só chegar até os excelentíssimos...

Algemas é coisa pra pobre.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Retrocesso militarista


De todas as instituições nacionais que detesto, o serviço militar obrigatório ocupa lugar de destaque. Obrigar, por força de lei, um guri de 18 anos a aprender o ofício de matar em combate sempre me soou um conceito medieval. Ainda que não somente pela violência inata do oficio, a idéia de que o Estado pode tomar um ano da vida de um cidadão para este cumprir tarefas que não lhe interessam já é absurdo o suficiente.

Na prática, o serviço militar só é obrigatório no Brasil para quem realmente deseja passar um ano sob jugo de milicos ou para infelizes que não tiveram sorte de escapar da tropa por excedente de contingente. Todo ano, a gurizada que apresenta problemas de saúde ou simplesmente cai no excedente pode continuar a vida normalmente, fato que não agrada muita gente “lá de cima”; quanta mão de obra perdida, quanta doutrinação passou em branco!

Mas os bons tempos estão acabando, a depender de alguns desses “lá de cima”: existe um projeto para tornar o serviço obrigatório em obrigatório de fato. Não li muito a respeito, mas parece que tal projeto prevê que aqueles que não cumprirem o serviço militar compulsório serão obrigados cumprir “serviço social obrigatório”. Serviço social obrigatório? Procurei por algo que esclarecesse o que seria isso no google, mas não logrei êxito. O que encontrei foram algumas declarações do mentor da grande idéia, Mangabeira Unger. Seguem trechos:

Quem não prestasse o serviço militar obrigatório --homens e mulheres-- prestaria o serviço social, de preferência em uma região do país diferente da que se originasse. E receberia treinamento militar rudimentar para compor uma força de reserva mobilizável em circunstâncias de necessidade". OK. Por partes. É muita novidade para poucas linhas. Mulheres atualmente não estão sujeitas a serviço militar obrigatório, mas parece que pretendem mudar isto. Parece que mulheres serão obrigadas a escolher entre o serviço militar ou o serviço social obrigatórios. Pior, ainda serão mandadas para algum grotão distante de seu lar. E, mesmo prestando um serviço não militar, ainda assim receberá o treinamento militar!

Se o serviço não é militar, quem dará este treinamento? E que doutrina será aplicada? Vamos treinar uma milícia civil em guerrilla warfare para emprego em alguma guerra fratricida? “Força de reserva mobilizável” certamente me remete a algo como força militar não-regular, uma guarda civil provisória das nossas antigas revoluções. E doutrinação ideológica não está descartada, segundo matéria da ZH: “A proposta é associar à educação militar dos jovens o ensino técnico e orientação civil. Ele não especificou como funcionaria essa orientação civil.”. Alguém lembra de OSPB?

Parece que a turma de 64 fez escola...

Imagem: "Eles querem você". Peguei daqui.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

A inquebrantável vontade humana


Como dizem alguns, as leis do mercado são inexoráveis. E mercado nada mais é do que uma das manifestações da vontade humana. Proibições e restrições a esta vontade devem ser sempre um último recurso, quando não há mais nada a fazer e quando desta medida não surgir um problema ainda maior, que é o que normalmente acontece.

O caso das drogas é exemplar. Drogas são prejudiciais à saúde e ninguém nega ou desconhece tal fato. Mas muito mais prejudicial do que as drogas em si é o crime organizado que vive as custas da proibição do comércio destas substâncias, e isto também ninguém nega ou desconhece. E, no Brasil, tal proibição se limita apenas à venda de entorpecentes, não ao seu uso, em um flagrante equívoco dos legisladores sobre como o mundo funciona. Você pode consumir a droga que quiser, mas aquele que tentar te vender estará cometendo crime de tráfico de drogas, cuja pena é uma das mais altas previstas em nosso Código Penal*.

A questão me veio à mente lendo uma notícia australiana onde o governo, muito preocupado com o bem estar de seus aborígines que descobriram o álcool e seus excessos, optou por proibir o consumo da bebida. Lei Seca. Devem ter pensado que no território selvagem, entre pessoas primitivas, tal proibição teria, pela primeira vez na longa história mundial da Lei Seca, sucesso. Quanta ingenuidade. Os nativos descobriram que cheirar gasolina induz a um estado embriaguez semelhante ao do álcool, mas pelo jeito muito mais ofensivo à saúde do usuário. Pela lógica adotada pelos homens do Estado, o próximo passo é proibir também o comércio da gasolina. Lógico.

*Outra curiosidade foi que a nova lei de drogas instituiu a figura do “financiador do tráfico”, cuja pena é maior do que a do vendedor, ignorando que o maior financiador é justamente o consumidor, razão de existir de um traficante.

A notícia na Folha: Aborígenes australianos cheiram gasolina por causa de "lei seca"

Imagem: Aborígene australiano, que Jared Diamond em sua obra Armas, Germes e Aço considera um dos povos mais criativos. Retirada daqui.

sábado, 18 de outubro de 2008

Sem lugar para os fracos


100 horas, quatro dias. Este foi o tempo que durou o seqüestro feito por um tal Lindemberg de sua ex-namorada e outros jovens. Até onde foi noticiado, foi o mais longo da história de São Paulo. Não só de São Paulo, diria eu. Durante este período a negociação foi tão longe a ponto de uma refém que havia sido libertada ter sido colocada de volta no cativeiro pela própria polícia e permitir que o vagabundo falasse ao vivo a um programa de auditório transmitido para todo o país. Quando a polícia finalmente invadiu o lugar, foi apenas porque um tiro foi ouvido. Pelo menos esta é a informação até o momento. E invadiram usando munição não-letal, a conhecida bala de borracha.

Este é o ponto. Durante toda a operação houve um total cuidado para preservar a vida dos três, inclusive do seqüestrador. Não está errado, pelo contrário, é uma atitude louvável. Mas a partir do momento que tal preocupação coloca a vida dos reféns sob grave risco, as prioridades devem mudar. Após o fato, algumas declarações do comandante dão pistas do que pode ter ocorrido. "Nós poderíamos ter dado o tiro de comprometimento (sniper). Mas era um garoto de 22 anos, sem antecedentes criminais e uma crise amorosa. Se nos tivéssemos atingido com um tiro de comprometimento, fatalmente estariam questionando por que o Gate não negociou mais, por que deram um tiro em jovem de 22 anos de idade em uma crise amorosa, fazendo algo em determinado momento em que se arrependeria para o resto da vida".

A decisão tomada de prolongar as negociações por um tempo recorde não foi feita totalmente com base na técnica, como era de se esperar, mas por um evidente medo da repercussão negativa que um tiro certeiro na testa de um jovem bandido poderia ocasionar a uma policia que já possui fama de ser extremamente violenta. O comandante não estava tentando salvar apenas os reféns e o seqüestrador, mas a instituição policial como um todo e o talvez o próprio pelego. Ele certamente previu que tal ação, televisionada para todo país ao vivo, geraria uma grande polêmica com ONGs humanitárias, jornalistas, pacifistas e cineastas, que certamente não perderiam a chance de produzir outro documentário sobre a “polícia que mata”.

Mas ser policial, pior, ser comandante ou delegado, é justamente assumir riscos e chamar a si a responsabilidade por ações arriscadas, sem considerar futuras críticas e preocupando-se apenas com fazer o serviço direito. Não estávamos lá, nunca saberemos como é negociar com um seqüestrador e nem todos somos formados em uma Academia de Polícia, mas os erros foram evidentes e o medo objetivamente influenciou todas as ações desastradas do comandante ao longo de evento. Ser policial no Brasil é coisa para poucos. Não há lugar os fracos. A cena das duas meninas saindo feridas do cativeiro e o vagabundo saindo caminhando ileso é emblemática.

Imagem: A guria que nunca deveria ter voltado ao cativeiro, sendo retirada com um tiro no rosto. Eduardo Anizelli/17.out.2008/Folha Imagem

domingo, 5 de outubro de 2008

Contra Deus, a sociedade, o mundo, e todo o resto


Foi em 91 ou 92, não tenho certeza, com uns 14 anos quando na casa de um amigo ouvi algo que influenciaria minha vida até a idade adulta. A casa dele tinha antena parabólica e ele conseguia captar sinal da MTV, um canal “só de música!” que a gente assistia entre uma partida de Master System e outra. E lá estávamos nós atirados nas almofadas da sala quando outro vídeo começava.


Um som estranho, meio fantasmagórico, um bando de cabeludos no meio de um deserto com guitarras pontiagudas, fogo e, o que me pareceu completo absurdo, um Cristo pregado na cruz usando uma máscara de gás. Um som de explosão seguido do que parecia ser uma locomotiva desgovernada e o próprio Belzebu começou a berrar coisas incompreensíveis.


-Credo! Que isso?! Perguntei, um tanto chocado.

-Sepultura, acho. Legal né?


De fato, legal pra caralho. Na época eu escutava basicamente o que meus pais escutavam, já que meus amigos não perdiam tempo com música. Coisas tipo Michael Jackson, Beatles, Jean Michel Jarre (alguém lembra?), Freddy Mercury e toda aquela safra dos anos 80. Além do que, ainda tinha certo tato no que dizia respeito à religião, Deus e assuntos metafísicos, os quais minha mãe é um tanto sensível.


Mas não deu pra segurar, pedi pro pai comprar o vinil do tal Sepultura, cuja capa já era por si só assustadora – uma montanha bizarra com olhos, bundas, stonehenge, cadáveres e um cérebro sendo assado no alto, de cuja fumaça se vislumbrava formas fantasmagóricas. Simpático.


- Isso deve ser porcaria, Júnior! Tu já ouviu essa coisa?? Perguntou um pai meio indignado, meio preocupado, em alguma loja de discos.

- É legal, pô. Não tem nada demais...


Ele cedeu sem maiores problemas, como normalmente acontece, e comprou o disco. Mas não sem algum comentário do tipo “tua mãe vai me matar”. E, bom, ele não estava totalmente errado.


Heavy Metal não tem graça escutar em volume civilizado, ou seja, baixo. Ponto. Como sentir o som do pedal duplo no peito e apreciar riffs de guitarra fodões sem o impacto de um áudio poderoso? Enfim, logo na primeira tocada do disco, lembro da mãe aparecer com um olhar meio assustado na porta do meu quarto no nosso antigo apartamento, enquanto Max Cavaleira urrava contra Deus, a sociedade, o mundo, e todo o resto.


-Júnior!! Que isso? Que gritaria é essa?

-Hã...... Sepultura?


Eu não era o guri mais rebelde do mundo. Na verdade, ficava constrangido em escutar aquele som sob o mesmo teto da mãe. Era um negócio blasfemo, anticristão, cheio de ódio e subversivo em todas as modalidades imagináveis. Era como ser pego com uma revista de mulher pelada no ato.


Adolescência. Acho que foi meu primeiro ato de adolescência, chocar o povo da casa com Heavy Metal (e ficar constrangido com isso!). O segundo foi me declarar ateu pra minha mãe. Daí a começar a usar roupas escrotas, parar de tomar banho (grunge legítimo), deixar crescer uns pentelhos na cara que em nada lembravam barba e raspar a cabeça (júnior! Que horror! Parece que fugiu de um hospício!) foi um pulinho de nada.


Em pouco tempo, as paredes do quarto estavam cobertas com pôsters, eu tentava (inutilmente) aprender a tocar guitarra e vivia plenamente as confusões criadas por um comportamento auto-destrutivo e auto-depreciativo provocadas por algum desequilíbrio químico em meu jovem organismo. Oh, adolescência!


E tudo isto porque agora a pouco, flanando pelo Youtube, tropecei por acaso naquele deserto onde jaz o Cristo crucificado e mascarado contra gás.


Obliteration Of Mankind

Under A Pale Grey Sky

We Shall Arise...

domingo, 7 de setembro de 2008

Novo blog

teste...