domingo, 22 de janeiro de 2017

O fim da pax americana?

"Com grandes poderes vem grandes responsabilidades" Tio Ben Trump foi eleito presidente da maior potência mundial, os Estados Unidos da América. E agora? Agora vamos dar uma espiada nas ideias defendidas por este camarada, e a razão pela qual eu acredito ele representar um risco à paz mundial. E as razões, ficará claro ao longo do texto, são curiosas e não intuitivas. Ele não é, como alguns sempre temeram que um dia viesse a acontecer, um Senhor da Guerra, pelo contrário. Trump não acredita em livre comércio, ou globalização. Para ele, tais coisas são "job killers". Ele é protecionista. Isolacionista. Trump possui um discurso nacionalista, e o próprio motto adotado na campanha deixa isto bastante claro. Ele pretende dificultar a vida de imigrantes ilegais mexicanos e que tais. Isolacionista. Trump é populista e tem sua base de apoio em trabalhadores mais pobres do interior americano, que como normalmente acontece na maior parte dos lugares são atraídos pelo discurso nacionalista e protecionista citados anteriormente. Ele será pressionado para transformar o discurso em realidade política. Trump, tal qual um populista latino americano, pretende lançar um programa de crescimento que em muito lembra nossa "Nova Matriz Econômica", aumentando os gastos com infraestrutura para gerar empregos e alavancar a economia artificialmente. Nós sabemos como isso pode terminar. Ah! Nós sabemos! Trump lamenta que o arsenal nuclear americano esteja obsoleto, sugerindo uma renovação nesta área. Trump sinaliza uma aproximação com a Rússia de Putin, que abertamente alimenta pretensões expansionistas na região. Trump promete remover o Estado Islâmico do mapa. Do que consegui levantar, estas serão as bases de sua administração, levando em consideração o discurso. Uma administração que se preocupa bem mais com questões internas do que externas. Uma que em muito lembra a administração de qualquer republiqueta de bananas, com apelo emocional aos trabalhadores e pobres ao melhor estilo "precisamos proteger o que é nosso". E como algo assim oferece risco à paz mundial? Quem já leu até aqui já deve ter uma ideia. Desde o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos assumiram a liderança política e militar incontestável do mundo, e desde então (e até antes disso), vivemos sob o que alguns chamam de Pax Americana, em referência a Pax Romana que vigeu durante o período imperial romano. Isto acontece por uma razão que me parece bastante óbvia: a simples ameaça do uso da força mantém Estados problemáticos (troublemakers states, no jargão americano, que pode ser traduzido também como Estados-marginais)sob controle. Com um presidente que não demonstra interesse em questões globais, parece natural que tais Estados fiquem tentados a "testar" a nova ordem. Eis o problema. Não se sabe com certeza se Trump realmente não se importa com tais questões, ou se ele simplesmente achou que tal discurso não teria apelo entre seu eleitorado, mas o mero fato de ter deixado de lado estes assuntos pode ser o suficiente para que os marginais do mundo interpretem o ato como fraqueza. Exceto por uma ameaça ao Estado Islâmico, uma referência ao arsenal nuclear obsoleto e uma aproximação com a Rússia, estamos no escuro. Assim, observem as seguintes regiões e países pelos próximos quatro anos: Rússia e Ucrânia; Rússia e os Bálcãs; Índia e Paquistão; Coreia do Norte; Observem a proxy war entre Arábia Saudita e Irã, no Iraque; Mar do sul da China; Israel e vizinhos. As chances são de que pelo menos algumas dessas regiões (e talvez outras mais) entrem em conflagração. Se isso acontecer de forma gradual, uma reação rápida e energética pode estancar o problema. Em um worst case scenario, várias regiões entram em combustão e as consequências estão além de qualquer previsão. De qualquer forma, nada parece muito promissor. Há anos escuto e leio de gente esquerdista sobre o horror da política intervencionista imperial estadunidense. É a crítica que o idiota latino-americano adora fazer sempre que tem a oportunidade de discursar sobre o Grande Satã do Norte. E agora, finalmente, o país conseguiu produzir o que parece ser um isolacionista convicto, um populista consumado e um interventor para deixar qualquer keynesiano orgulhoso. Um que inclusive pertenceu ao Partido Democrata há não muito tempo, diga-se. Alguém disse certa vez que não existe vacância de poder no mundo, e me agrada que ocupando esta posição esteja uma democracia liberal e capitalista. E a você?

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